INTRODUÇÃO
No evangelho de João encontramos vários encontros de pessoas com Cristo, que mudaram radicalmente seu modo de viver. A pessoa e o ensinamento de Cristo causaram um impacto definitivo em suas vidas, fazendo-os repensar o sentido de existir e reconstruirem sua cosmovisão. Pessoas que experimentaram viver segundo Cristo.
No texto de 4.43-54, há a narrativa de um homem, que exercia a função de oficial do rei, cujo filho estava doente em Cafarnaum, cidade onde Jesus tinha a sua morada. Entretanto, esse encontro ocorre em Caná (onde Ele havia transformado água em vinho e começara a manifestar a sua glória), após sair de Samaria e andar por 43 km. Após o encontro, Jesus decidiu ir novamente para a Judeia, onde os líderes religiosos desejavam sua morte e, para isso, caminharia mais ou menos 120 km. É interessante ver o desejo de Jesus em mudar a cosmovisão das pessoas, a fim de conduzi-las à verdade. A disposição é marcante e a necessidade de realizar sua missão é igualmente urgente.
A experiência gerada pelo encontro era o grande trunfo de Cristo, para ensinar a verdade aprendida junto ao Pai, revelada única e exclusivamente Nele como o ser autorizado e, consequentemente, criar o significado da sua pessoa e obra no meio das pessoas. Evidentemente, ele entendia que haveria percalços nessa caminhada e o evangelista narra com toda a precisão no v44. Entretanto, ele sabia do impacto das suas palavras e ações no coração das pessoas (v45). E, nesse encontro recheado de desespero, mas de confiança, que será mais uma vez ratificada essa verdade.
É certo, que falamos muito sobre experiência com Cristo, mas parece que não mensuramos o impacto dessas experiências na mudança da nossa cosmovisão. Esse homem que chegou até Cristo, tinha uma situação difícil, porque seu filho estava à beira da morte e ele não podia fazer nada para mudar o estado do seu filho. Nesse encontro com Cristo sua cosmovisão seria transformada completamente, começando no seu interior e confirmando no seu exterior.
É exatamente isso que quero compartilhar com toda simplicidade, trazendo luz ao que o texto diz com aquilo que quer dizer. A ideia proposta é que o encontro com Cristo gerará transformação de cosmovisão, levando em consideração a experiência desse homem. A pergunta básica é saber como essa transformação pode ocorrer? Nesse texto proponho 4 maneiras de como nossa experiência com Cristo, transformará nossa cosmovisão.
1. PRECISAREMOS TER O FOCO CERTO (v47)
Mesmo com toda sua luta interior pela situação do seu filho e toda a experiência adquirida como oficial do rei, ele sabe a quem procurar. Vemos isso claramente pelo verbo (OUVINDO) usado por João na descrição do pensamento daquele homem. Como os verbos gregos focam na qualidade ação, o evangelista faz questão de ressaltar que ele não pensou em qualquer coisa ou pessoa, seu ato de pensar ratificou a qualidade desse pensamento. Isso indica claramente, que havia dentro dele entendimento de quem era Jesus e o que era capaz de fazer.
De forma que, o autor descreve aquela ação de pensar como algo, que ocupou totalmente a sua mente ao ouvir que Jesus iria da Judéia para a Galiléia. Ele pensou como se fosse um som acústico aos ouvidos (Jesus virá). Como dizemos: é música aos meus ouvidos essa informação. Ele compreendeu o significado desse relato da chagada de Jesus e o que isso implicaria para a situação em que estava vivendo. Ele teve o foco certo na pessoa certa ao ponto de prestar atenção com diligência e fixar na sua mente. Algo trouxe a esperança para ele e não era nada abstrato ou desconhecido. A pessoa que poderia resolver seu problema estava ao seu alcance.
Então, ele foi ter com Jesus. Tomou a atitude certa, obedecendo ao seu pensamento acerca de quem era Jesus e o que poderia fazer favoravelmente à situação. Ele partiu de um lugar para outro. Literalmente, ele foi atrás daquilo que ele pensara e transformou em seu foco. Não ficou preso no pensamento, ele transformou o pensamento em ação. E não somente se movimentou, mas também, expressou os seus sentimentos e esperança pelo verbo (ROGA) usado diante de Jesus. O evangelista utiliza o tempo verbal no passado, mas como se fosse algo contínuo e repetitivo da parte daquele homem diante de Jesus. ele faz o pedido e pergunta se pode ser realizado. Faz lembrar a viúva que pede ao juiz para julgar sua causa com toda a insistência. É um pedido sincero, implorando e suplicando que Jesus o atendesse.
Ele sabia o que queria, porque ele desceu. Ele foi à presença de Jesus, porque para ele só pensar ou ter vontade, não resolve a questão. Ele precisava vir à presença de Jesus. Assim como Jesus manifestou a sua glória (presença) nos milagres, este homem manifesta a sua presença diante de Cristo. Ele entende que há uma probabilidade real de Jesus atender ao seu pedido de cura do seu filho. O pedido era evitar uma tragédia, que nunca sararia dentro dele. O filho poderia morrer com aquela enfermidade. É a profundidade do desespero do pai, que ama incondicionalmente ao filho, que coloca até a sua posição de oficial do rei em segundo plano. Não mede esforços para correr risco. Não está preocupado com a sua segurança e status. Ele só quer a cura do seu bem maior, mas ele sabe e tem a convicção imutável, que o seu foco em Jesus era acertadamente correto. Para ele, Jesus era o que dissera que era. Ele sabia da fama de Jesus. Ele o conhecia, só não havia tido a oportunidade de ter a experiência.
Porém, há obstáculos nesse caminhar. Não foi fácil para aquele homem. Ele precisava continuar na realização do seu pensamento e transformar a sua cosmovisão pela experiência com Cristo. Surge uma afirmação de Jesus, que poderia fazê-lo desistir de tudo. E aí, ele precisa provar, que tinha convicção. E assim como ele, igualmente precisamos ter, se quisermos deixar Cristo transformar nossa cosmovisão.
2. PRECISAMOS TER A CONVICÇÃO CERTA (v48)
Jesus, então, o faz uma afirmação sobre a atitude daquele homem, que aparentemente poderia ter destruído tudo o que estava construindo. Ele usa na sua afirmação uma condição de possibilidade. Era como se Jesus estivesse dizendo a ele: se vc não experimentar ou perceber vendo a ação, não vai crer. Jesus intensifica ainda mais esse aperto, ao usar SINAIS (o que autentica que aquele que faz, foi enviado por Deus) e MARAVILHAS (aquilo que é feito para provocar reações). O que Jesus estava dizendo era: há a possibilidade real de curar seu filho, mas vc só vai crer por causa disso.
O homem responde a Jesus (v49) com a continuidade do pedido, mas que Jesus deveria fazer o mesmo que ele fez, isto é, sem a manifestação da sua presença, não tem valor. Então, é hora de descer. Mas também, ele responde que crer, porque sua convicção no foco certo não mudou. Ele já cria em Cristo, por isso, fora atrás dele, mas agora, ele estava experimentando a transformação completa da sua cosmovisão.
A “exigência da presença de Cristo” era fator determinante para ele, mas não era para Cristo. e ele seria desafiado mais uma vez na direção de mudar sua cosmovisão. Jesus aceita a sua resposta, mas ao invés de ir, lança a sua palavra. E agora, ele manifestou seu foco na pessoa certa e sua convicção na pessoa certa. Entretanto, toda essa atitude era visível, ou melhor, concreta. A sua ação estava empiricamente comprovada. Ele não ficou preso ao seu pensamento, antes deu vida ao ir ao encontro de Jesus.
E mais um obstáculo surge na vida daquele homem, entretanto o mestre tem método certo para mudar toda a sua cosmovisão. Toda essa experiência precisava ser determinante na transformação da sua vida. Não poderia ser reduzida a conceito. Era necessária a transformação pela renovação da forma de ver, pensar, sentir e agir. Dai, surge a terceira forma de transformar nossa cosmovisão pela experiência com Cristo.
3. PRECISAMOS TER SUBMISSÃO À PALAVRA DE CRISTO (v50)
Toda experiência cristológica é mediada por sua palavra. Nada pode ser construído alheio ou contraditoriamente ao que ensinou e fez (At 1.1). Jesus com toda sua coerência de alguém que vive pelo que diz, desafia aquele homem a viver como ele. Sem dúvida, que os leitores do evangelho de João com nacionalidade judia e conhecedora do Antigo testamento, lembrariam o evento em que Moisés bateu na pedra, ao invés de apenas falar, para que as águas saíssem da rocha. Que desafio!
Aquele homem precisou materializar sua fé em Cristo, indo ao seu encontro. Agora, ele precisa crer numa frase dita por Jesus. Talvez, tenha passado por sua cabeça mais uma exigência ou desafio proposto. Será que não é suficiente a minha atitude? Agora, Jesus estava fazendo o caminho inverso do que o homem fez. O oficial do rei começou crendo dentro dele e materializou sua fé. Agora, ele precisa passar da materialização para a convicção interior. O interior o fez crer e o exterior ratificará essa fé interior.
Jesus, então, diz: VAI (não mais como veio, isto é, sem essa experiência pessoal comigo/ pode continuar sua vida pela experiência que vc teve comigo). Teu filho VIVE (ele permanecerá no meio dos vivos/ vc experimentará o que é viver a vida de Deus, isto é, viver por mim e através de mim).
O que fez o homem? Ele creu (depositou toda ou a mesma confiança em vir se encontrar com Cristo) e o objeto da sua crença foi a palavra de Jesus (o discurso e a declaração). Ele inegavelmente se submete à palavra de Cristo e pela qual ele vive e acredita no resultado do que ele disse, isto é, a presença física de Jesus, não é mais importante que a sua palavra. As duas coisas têm o mesmo grau de importância e a realização das coisas acontecem.
Falta, ainda, a última maneira de ocorrer a transformação da cosmovisão pela experiência com Cristo e, talvez, seja a que mais dá prazer. Porém, ela é resultado da experiência com Cristo.
4. PRECISAMOS COMPARTILHAR A EXPERIÊNCIA (vv51-53)
O oficial do rei foi para sua casa, a fim de confirmar o que Jesus dissera. Não havia dúvida de que ocorreria do jeito que Jesus dissera. O evangelista usa com toda clareza não somente a repetição das palavras, mas a literalidade do que Jesus dissera. O foco está naquilo que Jesus fez e ensinou e como transformou a cosmovisão daquele homem passo a passo. A fé daquele homem foi provada, sim! Mas fundamentalmente, Jesus conduziu a sua fé para transformar sua cosmovisão. Agora, ele é um discípulo e está pronto para multiplicar sua experiência com Cristo.
O evangelista afirma que ele ENTENDEU (v53). Quando recebe todas as informações dos seus servos, não somente o ato da cura, mas quando se deu a cura, o autor diz que ele reconheceu que o efeito teve a causa na palavra de Jesus. Ele percebeu que a pessoa e a palavra são os mesmos. Ele verificou a literalidade não somente da palavra, mas também, a temporalidade.
Sua experiência com Cristo o fez crer, que Jesus não era somente capaz de fazer as coisas, mas que ele era o que diz ser e, consequentemente, não poderia guardar isso somente para si. Imaginemos a explosão de alegria ao ver o filho curado, mas de poder ser autorizado a compartilhar sua experiência com Cristo e ver sua cosmovisão ser completamente modificada. Certamente, ele nunca mais foi o mesmo e experimentou a máxima de Jesus: “e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”
CONCLUSÃO:
Tenho visto e ouvido muitos relatos de pessoas, que experimentaram a mesma coisa que esse homem, incluindo servos de Deus dedicados à sua obra como líderes das ovelhas pertencentes ao abrigo do bom pastor Jesus Cristo. Contudo, igualmente, percebo o fechamento da mente quanto aos milagres praticados nos dias de hoje. Parece que são dominados por uma teologia seca e árida, que coloca os sinais e os milagres somente nas páginas históricas dos relatos neotestamentários.
Esse homem do relato de João das palavras de Jesus, não somente experimentou o esplendor da glória do evangelho de Cristo, mas ele passou a viver pelo seu encontro com Jesus. Ele foi introduzido à dimensão do entendimento de Cristo e assumiu o estilo de vida desse entendimento. A compreensão de quem era Cristo não foi fruto do pensar exclusivamente humano, mas sabemos que é ação do Espírito Santo desvendar quem é Cristo Jesus. Um homem com posição elevada no império, tendo o filho doente para a morte, creu que se encontrasse Jesus, seu problema se resolveria com a cura do filho, porém, não encontrou somente resposta para a continuidade da vida do filho na terra, encontrou sim, o significado da vida, vivendo e compartilhando a nova realidade em Cristo.
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