O apóstolo ao receber notícias de Tito, acerca do efeito da sua primeira carta escrita à igreja localizada na cidade de Corinto, escreveu a segunda carta à igreja, claramente em tom mais ameno e com o desejo de afirmar seu apostolado, mas ao mesmo tempo, objetivando ensinar a igreja.
Ele inicia no capítulo anterior (3) sua tese do apostolado, contudo não deixa de ensinar a igreja, que tudo que é aplicado a ele como apóstolo, também é aplicado à igreja. Isso reforça seu entendimento da função apostólica dada e autorizada por Jesus, no tocante à edificação da igreja. Por isso, ela é apostólica na sua essência e no seu estilo de vida normativamente.
De modo que, ele ressalta sua essência, sua função e sua forma. Com a essência, ele diz que a igreja é a carta de Cristo (3.3), isto é, as pessoas verão a Cristo, olhando para a igreja e, por conseguinte, aonde estiver a igreja (os que ouviram o evangelho da verdade e creram, foram selado com o Espírito Santo), Cristo estará presente; uma vez que, ela é indivisível com Ele, por fazer parte do Novo Ser criado pelo Pai. É a responsabilidade do testemunho não somente da igreja, mas também do próprio Cristo, porque essa é a certeza de Deus em nos fazer o que somos em Cristo, a saber que Ele será visto através de nós.
Com relação à função, ele diz, que a igreja tem o ministério do Novo Testamento (3.6), seguindo o mesmo princípio da igreja apostólica. Essa é a proclamação da igreja, isto é, a pessoa e a obra de Cristo. A aliança anterior (sinaítica) foi feita em pedras, indicando temporalidade e impossível de justificar alguém perante ao Pai. Ela evidenciava o pecado do homem, por não alcançar sua obediência à aliança e, consequentemente, gerava morte. Assim, a nova aliança (novo testamento) é realizada pela pessoa (cumpriu toda a Lei) e obra (expiação) de Jesus Cristo, a qual terá na pessoa do Espírito Santo o aplicador dessa obra (3.8). Sua função será convencer o homem do pecado, da justiça e do juízo, mas também, de abrir o entendimento e de cura da cegueira espiritual do homem, a fim de que se arrependa do pecado (essência e estilo de vida fora do padrão do Pai) e confesse a Jesus Cristo como salvador e senhor da sua vida. Por conseguinte é justificado (3.9/ declarado inocente) diante do Pai, recebendo perdão dos pecados e a dádiva de viver a vida que estava no Pai e foi dada ao Filho Jesus e ele deu aos que creram. É isso que faz a carta de Cristo, ela testemunha (proclama a aliança do novo testamento).
Com relação a sua forma, a igreja reflete a glória de Cristo (3.18). Isso indica que o resplendor da presença do Espírito Santo, mesmo que seja como se fosse um espelho, é plenamente preceptivo e permanente. Ora, desde o Antigo Testamento a glória sempre significou a presença indubitável e visível de Deus no meio do seu povo, visto na inauguração do tabernáculo e dos dois templos. No novo testamento, a igreja é chamada de santuário, cuja palavra descreve o santo e o santo dos santos, bem como, diz que nesse santuário, o Espírito Santo habita permanentemente. O resultado da nossa forma (reflete a glória de Cristo), vai gerando transformação (forma que se transforma em ação) de presença em presença, no dia a dia da vida na era presente, mediante o poder (capacitação, força, energia, entendimento, ensino) do único habitante e única autoridade delegada da e para a nossa casa espiritual (a totalidade do nosso ser), que é o Espírito da parte do Pai e o Espírito de Cristo.
É nesse contexto, que o apóstolo Paulo conclama a igreja, para o desafio de refletir Jesus Cristo no seu corpo mortal, elucidando a necessidade (precisa ser feito), a despeito da vontade contrária da igreja ou das circunstâncias enfrentadas no dia a dia. De modo que, ele propõe três necessidades para refletirmos a Cristo em nosso corpo mortal.
1. É NECESSÁRIO PERSEVERAR NA MANIFESTAÇÃO DA VERDADE (4.1-6)
Paulo lança o desafio profundo e complexo à igreja, para perseverar na manifestação da verdade, a fim de que possa refletir a presença de Cristo. Notemos a continuidade do pensamento dele, em relação à primeira carta escrita aos irmãos, onde ele esclarece a percepção e entendimento errados da fé do evangelho pregado pelo apóstolo. Agora, após a correção, ele desafia aqueles irmãos a entenderem toda a dimensão da vida em Cristo e, assim como Cristo é a verdade e estão em Cristo, não podem viver fora da verdade. Observemos que esse princípio é normativo e não cabe achar que isso faz parte do problema existente naquela igreja local ou que isso foi no passado. Jamais poderemos refletir a presença de Cristo, vivendo na mentira.
Ele nos afirma que temos continuamente, enquanto vivermos na era presente, o ministério, que é serviço ativo e com atitude voluntária, tendo sido capacitados pelo Espírito Santo, a fim de cumprir a missão. Esse ministério foi nos dado, não por que merecemos, mas foi fruto da sua graça, que ofereceu o ambiente devido, para a manifestação da sua misericórdia e em conformidade com a nova aliança (novo testamento). É importante ressaltar, que o ministério foi nos dado, quando fizemos a aliança com o Pai pelo sangue do seu Filho Jesus. De modo que, o ministério tem seu ponto inicial no passado realizado e segue sua atividade continuamente dentro da era presente.
Assim, ele começa o ensino, afirmando a necessidade de abandonar algumas práticas, existentes dentro de nós, as quais refletimos, quando agimos, o que formou o nosso ser, mesmo sendo a igreja:
É DENTRO DE NÓS:
Primeira prática está dentro de nós e, portanto, envolve o nosso interior. A ordem é Não Desfalecer. A preocupação do autor está focada em não deixar, que os irmãos sejam influenciados negativamente pelo cansaço interior, devido as inúmeras experiências em realizar sua missão. Isso indica, que eles não deveriam perder a coragem de afirmar quem são e, portanto, serem tomados pelo medo e desânimo, como se estivessem totalmente exaustos, achando que fizeram tudo pela fé e, consequentemente, não precisassem mais continuar sua missão. A preocupação paulina estava concentrada nos efeitos, que a experiência na vida, os deixassem sem nenhuma disposição em continuar sendo a carta de Cristo, ministros da nova aliança e reflexo da presença de Cristo. A implicação natural de algo de dentro para fora. É a ideia de estar desestimulado e não ver nada exterior que o estimule. Esse era o desafio do apóstolo para a igreja. Portanto, a igreja deveria cair em si e continuar a ser aquilo que Deus, o Pai, a fez em Cristo Jesus. A mudança de atitude era imprescindível, a fim de perseverar na manifestação da verdade. Há muitos exemplos de irmãos, que cansaram de evangelizar, porque não viam conversões e, outro tanto, que desistiram de frequentar uma igreja local, porque não veem mais foco na igreja neotestamentária. Entretanto, é necessário lembrar as palavras de Jesus no evangelho de João (14-16) sobre a função do Espírito Santo.
É FORA DE NÓS
Como vimos acima, a primeira prática a ser abandonada é interior, a segunda é exterior e, por conseguinte, palpável aos olhos e compreendida pela mente, a saber: NÃO VIVER NAS COISAS OCULTAS, não andar em astúcia e não falsificar a palavra de Deus. Todas elas, segundo o apóstolo, devem ser rejeitadas. Esse verbo é bem interessante, porque indica uma qualidade de ação, descrita como realizada no passado. A ideia de que o sujeito (igreja) realiza uma ação em si mesmo, sofrendo os efeitos da ação de rejeitar essas condutas. Além disso, a palavra denota o significado de renunciar e recusar e isso, diante do Deus e Pai de nosso Senhor jesus Cristo. Portanto, rejeitar é a decisão e a ação de quem entendeu as coisas das quais é acusado e, por conseguinte, lança de si como forma de desistência, renúncia e recusa. É óbvio, que ele conclama a igreja para se auto analisar e se arrepender ou se conscientizar, que o rumo tomado não permitirá, que a glória de Cristo se manifeste nos corpos mortais dos irmãos.
TANTO DENTRO QUANTO FORA DE NÓS, HÁ DESDOBRAMENTOS
O primeiro desdobramento da ação do verbo, é rejeitar AS COISAS QUE, POR VERGONHA, SE OCULTAM. O autor fala de algo, que está em secreto, correspondendo a nossa natureza interior, isto é, está dentro do caracter e, envolvem os pensamentos, sentimentos e desejos secretos, cuja origem ou fonte são atos malignos, que deveríamos ter vergonha, os quais geram todo o tipo de confusão e senso de estar errado. Paulo está afirmando à igreja, que esse tipo de conduta significa viver desonestamente com o que fomos feitos por Deus em Cristo. De modo que, ele desafia à igreja para abrir o porão da alma e revelar todos os segredos ao nosso Deus e Pai e, isso não é uma opção, é uma ordem. Continuar nessa conduta, resultará em desfigurar totalmente a vida da igreja em refletir a glória de Cristo.
O segundo desdobramento da ação do verbo é: NÃO ANDANDO EM ASTÚCIA. O apóstolo usa demasiadamente esse verbo, no afã de ensinar à igreja, que tudo o que ela faz, reflete o seu modo de viver, ou seja, o seu comportamento denotava o estilo de vida assumido e, evidentemente, ele tinha na mente, que a igreja assumiu o estilo de vida de Cristo, como também, que ele nunca andou em astúcia. Paulo estava dizendo à igreja, que esse andar em astúcia, regula e conduz a vida como se fosse um vício espalhado por toda a parte. Ele reforça essa ideia usando o tempo verbal no particípio presente, para corroborar a qualidade da ação contínua tendo o sujeito como aquele que deliberadamente comete essa ação de andar em astúcia. Somada a isso ele usa a preposição EM, para afirmar que a igreja está andando na dimensão ou aonde a astúcia vive e age. Portanto, a astúcia como esperteza e habilidade de fazer qualquer coisa, a fim de alcançar os objetivos (os fins justificam os meios), com característica de ser inescrupulosa, com falsa sabedoria, ilusória e sem limite; não passa de ser truque, sofisma e sutileza. Isso me faz lembrar o significado básico da palavra serpente no Antigo testamento, cuja ideia comparativa é o scanner, onde se observa tudo e depois ataca sem nenhuma possibilidade de errar. Com essa conduta a igreja nunca refletirá a glória de Cristo e, consequentemente, alcançarmos os perdidos.
O terceiro desdobramento do verbo é: NEM FALSIFICANDO A PALAVRA DE DEUS. O verbo é uma ação contínua e repetitiva de adulterar, enganar, e fraudar a palavra de Deus. Essa é a atitude dos que corrompem a verdade divina com mistura e engano (espírito da babilônia). A ideia de alguém que lança a isca, para prender o ouvinte e corromper todo ensino bíblico, especialmente o Novo Testamento, no afã de manipular a fé uma vez por todas dada aos santos, tendo como alvo somente enganar. É a tentativa de pegar os discursos, as declarações e a fala de Deus em seus escritos e disseminar a dúvida e o engano, tendo em vista manipular a fé da igreja. Portanto, essa conduta impedirá à igreja de refletir a glória de Cristo e, consequentemente, exercer seu papel no mundo congregado (físico e espiritual). Para Paulo, se temos um ministério da nova aliança, devemos proclamá-lo sem adulteração ou engano.
Assim sendo, o apóstolo diz aos irmãos, que há resultado positivo em rejeitar as coisas interiores e exteriores, que é o ALINHAMENTO COM DEUS. Isso lembra muito os escritos de Ageu, quando ele conclama ao povo a alinhar o coração (totalidade do ser) ao coração de Deus. Daí, o apóstolo afirma, que ao apresentarmos alguém perante Deus, visando, evidentemente, sua salvação, será o conhecimento da pessoa por parte de Deus, bem como, a ratificação do testemunho por parte de quem é apresentado diante de Deus. Assim, a igreja refletirá a glória de Cristo, porque recomendou o indivíduo diante de Deus e manifestou a verdade, por viver em conformidade ao que foi feita por Deus em Cristo e por renunciar tudo o que não provém de Deus. Não há nenhuma dúvida no ensino, se limpar a casa espiritual, andará em conformidade ao estilo de Cristo e refletirá no próprio corpo (na totalidade do ser) a glória/ presença dele de modo perceptívo e indubitável.
Depois de ensinar e descortinar a verdade, o apóstolo afirma, que mesmo fazendo todas essas coisas citadas acima, pode acontecer obstáculo, que ele descreve pela não conversão das pessoas (v3) e, consequentemente, não contemplarem a glória de Cristo, a saber: O DIABO CEGOU O ENTENDIMENTO DOS INCRÉDULOS (v4). Numa leitura superficial, parece que o estado é irreversível, mas ao analisar com mais cuidado, perceberemos que existirá mudança de situação. De sorte que, ele não nos deixa sem o ensino correto, afinal, ele não é um adúltero da palavra de Deus e nem anda engando as pessoas.
Ele passa a descrever sua percepção da situação (v3), afirmando que é real, mas usa o tempo verbal para focar a finitude da obra do inimigo, porque assim como Deus fizera conosco, também poderá fazer com os incrédulos. Então, na sua descrição da atividade do mal, ele esclarece que a ação envolve a tentativa de dificultar o conhecimento do evangelho da glória de Cristo. De modo que, ele envelopa, esconde e oculta dos que se perdem, isto é, os que tem a morte como certa e, evidentemente, ele está falando da morte espiritual, cujo estado é a separação de Deus.
Ele continua descrevendo a atividade do mal (v4),o identificando como o deus desse espaço de tempo ou ciclo ou período de tempo ou desta era, que agiu (ação realizada no passado) como se fosse nuvem densa de fumaça, dentro do pensamento, do propósito, do coração e dos sentimentos, para evitar qualquer esforço mental ou de percepção, visando o discernimento mental e, consequentemente, trazendo a cegueira espiritual em obscurecer a mente daqueles que não foram persuadidos pelo Espírito Santo a crer no evangelho e exercer a fé salvadora em Cristo.
Todo esse esforço maligno, segundo o apóstolo, é a tentativa de não deixar resplandecer a luz do evangelho. Ele não quer que o brilho da mensagem do evangelho, que é Cristo, faça com que os incrédulos vejam claramente e sejam iluminados pela luz do evangelho, o qual tem sua origem e fonte em Cristo, sendo Jesus a exata semelhança de Deus (Cl 1.15).
Em meio a todo esse caos, há uma esperança (vv 5-6). Ele usa o verbo no passado com a qualidade ação superior ao que fez o diabo, pois sua conclusão o faz emitir palavras como decreto e aonde as trevas atuam, descrita pelo apóstolo como dimensão onde atua o pecado e o inimigo. De modo que, o apóstolo corrobora sua tese, usando o verbo RESPLANDECESSE no futuro do indicativo, para afirmar que o que Deus disse, vai acontecer, isto é, que a iluminação divina para revelar e transmitir a vida através de Cristo ocorra na vida daqueles que estão cegos no entendimento pelo diabo. É importante dizer, que a luz é tanto a verdade salvadora em Cristo quanto a revelação do Deus santo.
Ele ainda intensifica seu argumento, mostrando que o que acontecera com a igreja, acontecerá do mesmo jeito com quem ainda não creu. Mas, ressalta que é pelo ensino do evangelho, que envolve o conteúdo e a fonte como confiável, o qua produzirá o relacionamento direto e pessoal com Deus. Paulo entende que o conhecimento, não pertence somente ao campo da informação, mas sua natureza principal é relacionamento pessoal com Deus.
Portanto, não há motivos para deixarmos de refletir a glória de Cristo em nosso corpo, porque vemos que pessoas não se convertem a Cristo e nem que já fizemos tudo para o evangelho. Nossa missão é continuar não desfalecer em meios aos problemas interiores, exteriores e espirituais. Nossa missão é ensinar o evangelho da glória do Senhor Jesus Cristo, que o Pai já decretou que das trevas resplandeça a luz e sua eficácia se dará pela ação do Espírito Santo.
Agora, ele avança para outras áreas, para refletirmos a glória de Cristo, pois elucidará circunstância da vida em que há uma aparente contradição. Esse é o segundo tópico.
2. É NECESSÁRIO ENTENDER QUE O PODER É DE DEUS (4.7)
O apóstolo entra numa área, que revela a dificuldade dos irmãos em entender a fonte e origem do poder manifestado, bem como, a exclusividade da glória pelos efeitos ocorridos e, sem dúvida alguma, é uma área difícil nos dias de hoje, por causa do culto a personalidade dentro da igreja.
Ele inicia com a verdade permanente de algo que temos e foi nos dado pela conversão a Cristo, ratificando que é posse contínua: É o Poder de Deus. Isso não envolve somente capacitação e dons, mas também, força e energia. De modo que, temos a autorização pra usar em qualquer circunstância e esse poder. Ele é o mesmo que expulsou os inimigos espirituais da presença de Deus.
Ele passa a descrever a preciosidade desse poder, chamando-o de tesouro. Sim! Ele diz que esse tesouro está dentro do vaso de barro (na totalidade do nosso ser), isto é, uma casa cheia de coisas preciosas. Isso nós carregamos como privilégio e como responsabilidade. Todo poder dado por Deus em Cristo pela habitação do Espírito Santo a nós, está dentro de nós. Infelizmente, continuamos a orar e pregar, que Deus venha com seu poder, ao invés de usarmos. Nunca é tardio em avisar à Igreja, que foi assim que Deus lhe fez em Cristo.
Entretanto, há uma exortação aos que usam o poder de Deus, incluindo, o próprio apóstolo: A EXCELÊNCIA É DE DEUS. Todas as vezes que usarmos esse poder em qualquer área de abrangência dele, precisamos aprender de fato e de verdade, que Deus não divide a sua glória, e mais, somos vasos. Assim, a preeminência, a grandeza e a superioridade pertence ao dono do poder. Não andemos pensando como satanás, que achou que o poder era inerente dele. Nós somos vasos, portanto, somos finitos e criados, bem como nossa relação com Deus é de vaso e oleiro. Contudo, nós somos o lugar onde as coisas boas e preciosas são colecionadas, guardadas e arrumadas. O mérito do que acontece no uso do poder, não é nosso e o reconhecimento não é nosso. Tudo é de Deus!
O que Paulo está nos ensinado é: está dentro de nós o poder de Deus, mas a glória dos efeitos desse poder não é nossa, apenas somos o lugar onde Deus quis operar o seu poder. Isso implica proibição e correção aos que se acham diferente dos outros e aceitam o reconhecimento para si.
Assim como vimos anteriormente, há percalços nesse exercício do poder de Deus, que traz uma aparência de contradição. Pois, se possuímos o poder de Deus e ele é o mais forte e indestrutível, usando a linguagem de Paulo em Ef 1 (“poder sobre excelente”), por que vivemos situações de sofrimento? A resposta paulina é esclarecedora e confortadora, conforme segue abaixo:
ATRIBULADOS SIM, MAS NÃO ANGUSTIADOS
Somos atribulados, representando o estado psíquico do nosso ser de pressão, aflição e angústia. Significa que os problemas são externos e afetam nosso Ser Interior, exatamente onde o poder está. Somos pressionados como se uma multidão nos apertasse ao ponto de nos deixar totalmente estáticos. Paralisamos em meio a tanto sofrimento. Entretanto, Paulo chama a nossa atenção, que não há nenhuma contradição, porque Deus sempre coloca uma válvula de escape, exatamente pela presença do seu poder em nós. De forma que, o fato de estarmos atribulados, não nos deixará angustiado. Isso quer dizer, que não ficaremos num lugar fechado sem saída e, por conseguinte, apertados e impedido de agir e, principalmente, não restringirá nossa percepção do que devemos fazer. Jamais seremos esmagados ou triturados por estarmos atribulados. Diante disso, uma coisa precisa ser dita: enquanto estamos atribulados, nosso psíquico gera apenas sentimentos e, isso nos causa uma somatização (o corpo começa aa sentir e os órgãos entram em crise); contudo, o apóstolo está nos chamando para perceber, isto é, usar o estado mental e, consequentemente, acharemos a saída pelo auxílio e exercício do poder de Deus.
PERPLEXOS, NÃO DESANIMADOS
Segundo momento de aparente contradição, mesmo tendo o poder de Deus em nós, é ESTARMOS PERPLEXOS. Esse é o estado onde não sabemos o que fazer e o que decidir, gerando dúvida e medo constante, especialmente diante das perdas, dos prejuízos e das incertezas. O cenário é difícil, a luz no final do túnel não aparece e a incerteza começa a dominar com o sentimento de derrota completa e irreversível. Entretanto, ele diz: NÃO SOMOS DESANIMADOS, isto é, não estamos sem direção, saída ou solução. Isso indica que a existência do poder de Deus em nós, nos faz não perder a esperança ou viver sem rumo. Ele é categórico em dizer que não podemos entrar em desespero. Como o apóstolo abrange a atuação do poder de Deus! Ele não nega que estaremos diante de circunstâncias impossíveis de serem solucionadas, mas pela presença do pode de Deus e a autorização de usá-lo, o impossível se torna possível e, mais do que isso, continuamos a refletir a glória de Cristo em nosso corpo mortal.
PERSEGUIDOS, MAS NÃO DESAMPARADOS
Terceiro momento é: PERSEGUIDOS. Eis uma palavra forte e todos os que creram em Cristo e viveram em ambiente hostil ao evangelho, sentiram na pele. Quantos irmãos ao longo da caminha com Cristo, não foram devorados por feras, degolados, sacrificados, presos em postes e posto fogo para a iluminação, perderam famílias, abusados, sofreram as piores humilhações, apanharam e sofreram por causa da sua fé em Cristo? Agressividade foi isso que o apóstolo disse à igreja, que poderiam estar passando, mesmo com o poder de Deus dentro dela e a serviço dela. Contudo, ele diz: MAS NÃO DESAMPARADOS. Tudo que uma pessoa quer no momento de sofrimento, é amparo; ter alguém a quem possa recorrer; ter alguém que possa curar seus sofrimentos. Paulo afirma sem dúvida e até por experiência própria com Deus, que nós nunca seremos abandonados ou deixados para trás! Nos anima dizendo, que ele nunca tirou licença para descansar ou se afastar do seu ofício. Ele nunca nos deixou abandonados sozinhos no deserto ou em apuros. Ele nos deu o seu poder, para sairmos dessa situação e nos confortar em meio aos sofrimentos, consolidando a esperança da sua presença em nós.
O apóstolo está dizendo à igreja, que o poder de Deus dentro de nós, nos capacita a passar por todas as coisas, mesmo que seja com sofrimentos terríveis e dolorosos. Seu poder em nós denota sua presença conosco em nos ensinar e nos fazer exercitá-lo. Paulo em outro momento disse, que carregava no corpo as marcas de Cristo e é exatamente isso que ele quer ensinar à igreja, a fim de que ela reflita a glória de Cristo no seu próprio corpo. Isso ele chamou de mortificação do corpo, resulte na manifestação da vida de Cristo em nosso corpo.
Amados, essa é a nossa vocação em Cristo (não é somente crer, mas também padecer), mas também, há a esperança (mesmo no extremo da morte, ressuscitaremos como Cristo ressuscitou). Essas duas palavras carregam o significado da nossa fé em seguir a Cristo.
Finalmente, o apóstolo chega à terceira área, onde precisamos experimentar a nossa fé e refletir a Cristo em nosso corpo mortal.
3. É NECESSÁRIO EXPERIMENTAR A FÉ (4.13-15)
Talvez, um dos grandes problemas na igreja é o fato de ter muitos conceitos, mas pouca experiência no exercício da fé dada aos salvos. Atento a esse aspecto, Paulo conclama a igreja ao fato de saber todas as coisas ditas, acerca de refletir a glória de Cristo em nosso corpo mortal, mas não as experimentar, não tem nenhum valor. Usando a linguagem de Tiago, olhar no espelho e depois não saber como era.
Ele começa como terminou, focando ao fato que quanto mais a igreja é ensinada, mais próximo ele está do encontro com Cristo, ou seja, ele está experimentando tudo acerca da sua fé (v12).
Ele conclama a igreja para a unidade, a qual ele chama do mesmo espírito de fé (v13). O verbo TER fala de algo certo, completo, firme, constante e sem nenhuma dúvida. Com o acréscimo do advérbio MESMO juntamente com o artigo, funcionando como qualificador do espírito, a ideia fundamental apresentada é que pensamos juntos ou iguais. Unanimidade é fruto da experiência em refletir a Cristo em nosso corpo mortal.
FÉ fala da necessidade de ter absoluta convicção e crença na unanimidade de todos, mediante: a) A confiança que por causa da nossa relação EM CRISTO, podemos confiar exclusivamente nele, a fim de que cheguemos à unanimidade entre e dentro de nós. b) A constância ou perseverança naquilo que cremos nos fará pensar unicamente em seguir a orientação do Espírito Santo. c) Por causa da verdade colocada dentro de nós, que é possível e concreto ser unânimes em nosso próprio espírito.
O que o apóstolo Paulo está dizendo à igreja, que ela só refletirá a glória de Jesus Cristo, se agir em conformidade à verdade, porque nosso espírito foi restaurado e à verdade escrita dentro de nós pelo Espírito Santo de Deus, nos fará a unidade da fé que assumimos em Cristo.
Ele continua seu pensamento, usando uma expressão muitíssima conhecida, a saber: ESTÁ ESCRITO. Essa expressão verbal está num tempo chamado PERFEITO. Isso quer dizer que, é algo que aconteceu no passado, mas seus efeitos e autoridade permanecem no presente (ação completa). A expressão verbal significa que algo foi escrito, descrito e gravado. Isso confirma o que fora dito em II Co 3.3, onde é dito que a verdade de Deus, o evangelho de luz, que é Cristo, a glória e imagem de Deus, foi inscrito dentro do nosso ser interior (coração).
Ele continua seu ensino, usando a expressão: CRI POR ISSO FALEI. Primeiro precisa crer, para depois afirmar o que crer. A fé diz respeito àquele que vive pelo que crer, não se desassocia sua vida seja em qual área for do que crer. Isso indica que não há negociação e nem duplicidade de conduta. Vive pelo que crer. De modo que, ser crente é primeiro viver o que acredita, confia e deposita toda sua vida.
Após expressar no viver o que crer, agora é necessário expressar sua fé. Portanto, é normativo falar! Em Rm 10.8-18, há a exata expressão do conteúdo de falar, porque se trata do imperativo sobre os filhos de Deus, pregar o evangelho da salvação, que nada mais é do que pregar a Cristo Jesus. De sorte que, pregar significa proferir palavras e dizer aberta e publicamente, mediante a utilização da voz. Para o Espírito Santo, primeiro precisamos vivenciar a nossa fé, para podermos com coerência, consistência e autoridade publicar a mensagem de Jesus Cristo, o filho de Deus.
Após concluir sobre a unidade, ele caminha na direção de ensinar à igreja, a manutenção da ESPERANÇA da RESSURREIÇÃO: O Espírito Santo sustenta a realidade da ressurreição.
» A palavra significa reunir as nossas próprias faculdades. Isso indica que não haverá desconexão com a realidade que viveremos com a ressurreição. Não há perda de consciência e de realidade de ser. Haverá sim, transformação do corpo, conforme I Co 15 e I Ts 5.
» Outro significado claro sobre ressurreição é a ideia de despertar do sono ou despertar da não existência. Isso afirma que nós, enquanto corpo-alma-espírito no momento da morte física, deixaremos de existir com essa composição, mas enquanto alma vivente, estaremos com o Senhor.
» Erguer-se dentre os mortos é outro significado para a palavra ressurreição. Reafirmando claramente, que voltaremos a existir com toda a nossa composição (corpo-alma-espírito). Veja o que o Espírito Santo ensina ao apóstolo Paulo em Ef 2.6, que todo o que recebe a Jesus Cristo e se torna um com Ele, já está ressuscitado. Isto quer dizer, que nas regiões celestes já vencemos todos os inimigos, incluindo a morte e o pecado. A questão é viver aqui, o que já somos lá, até porque todas as coisas ainda não se realizaram no mundo congregado.
Notemos, que tanto a mortificação do corpo (a experiência em Cristo) e a morte (deixar de existir nesse presente tempo, são os meios de revelarmos/ refletirmos a vida de Cristo em nossos corpos mortais. O que temos visto, em alguns que creram, é não passar por nenhuma experiência de sofrimento e o medo constante da morte como se fosse um final em si.
APRESENTARÁ CONVOSCO – o novo testamento sempre afirmou, que um dia iremos viver para sempre com Deus e, Paulo para afirma a nossa unidade em Cristo, nos ensina que além de ressuscitados, também, seremos apresentados diante do Pai pelo Filho. Por isso, seremos recomendados e seremos o depósito (a herança de Deus na terra).
Finalmente, ele chega no ponta da GRATIDÃO. Todas as coisas de Deus acontecem através da igreja, seja ela em parte (membro individual) ou no todo (todos os membros do corpo de Cristo). A igreja de Deus e do Senhor Jesus Cristo é única no mundo congregado com autoridade pra fazer e desfazer; ser representante legal de Deus; criar os meios pelos quais agirá no presente momento. Enfim, se alguém tem poder e autoridade e representação é a igreja de Deus.
Como poderemos demonstrar ao mundo, que há graça multiplicada entre nós? Quando houver dentro e entre nós generosidade para com nosso irmão.
» Generosidade aqui fala daquilo que provoca alegria, prazer e gratidão. Quando tivermos disposição ou atitude com relação aos outros irmãos. Isso indica o aspecto de ter boa vontade para com o irmão.
MULTIPLICADORA: a ideia básica é exceder. É fazer mais em quantidade e qualidade. Foi assim no início da igreja, aliás, essa é a essência do relacionamento dentro do corpo (At 2.44,47). Aqui estamos falando da essência da igreja. Isso não passou, é o fundamento para toda relação entre os irmãos.
Quando os não cristãos poderão ver a abundantes ações de graças no meio do povo de Deus? Quando de fato formos além do esperado. Vida de agradecimento sobrando. Lábios que proclamam a gratidão a Deus pela salvação em Cristo, pela habitação do Espírito Santo e por Deus ter unidos a todo o que Crê no mesmo corpo, o de Cristo.
Ações de graça é o ato de adorar a Deus com lábios agradecidos. São lábios que verdadeiramente honram com o coração perto de Deus. Como bem nos diz Ageu em seus escritos: Alinhado. Não foca em lisonjeiros mentirosos. Aqui está a vida na verdade. Isso tudo indica alguém satisfeito da sua identidade com Cristo. Cristo está em Deus e nós estamos em Cristo.
O RESULTADO DE TODA ESSA UNIDADE (vv16-18): Toda tribulação é momentânea e tem peso de glória para nós. Por isso, não podemos desfalecer, porque há uma renovação todos os dias. O homem interior se corrompe, ele sente visivelmente o peso produzido pela tribulação. São dores, pressão, tristeza, os momentos de crises. Porém, o homem interior se renova, com perseverança, com sabedoria, com entendimento, com fortalecimento e consolidação da sua fé, por ter superado todas as adversidades.
Focar plenamente nas coisas que são eternas. Isso denota algo perpetuo que nunca acabará. Sempre será glorioso e nos realizará completamente, porque todo o nosso trabalho nesse mundo, estará sendo realizado e completado. É isso que nos resultará todo o peso desse presente tempo, a saber: Abundância e Autoridade.
Há muitos crentes presos ao mundo. Não ter os olhos fixos nesse mundo, significa não ter esse mundo por referência, como se fosse à base da sua existência e essência. É somente perceber e desejar as coisas do aqui e agora e, consequentemente, caminhar na direção somente desse presente tempo que vivemos. Não ter os olhos fixos nesse mundo, significa que a nossa referência é a palavra dita e prometida por Deus, mediante Jesus Cristo e ensinada pelo Espírito Santo. Assim, a expectativa de Paulo era que essa palavra, permeasse no pensar e no agir; que se vivesse aqui, mas pensasse nas coisas lá do céu, prometida forte e plenamente por Jesus.
Assim se constrói a verdadeira experiência, mediada pelo ensino fundamentado e dirigido pelo Espírito da verdade, para refletirmos a glória de Cristo em nosso corpo mortal.
CONCLUSÃO:
1. Para o apóstolo nada mudou, em relação ao que ele ensinara a igreja, desde o dia que colocou seus pés na cidade de Corinto, a fim de fazer discípulos.
2. Não estamos pregando misticismo ou pensamento oriental. Estamos falando de algo que o apóstolo ensinou a igreja e, a verdade normativa não mudou em função do tempo, do lugar e das circunstâncias.
3. É necessário repensar no que se tornou a igreja e como a centralidade da mensagem e seu desdobramento, foram abertamente deturpados e precisamos corrigir e voltar o trem para a linha do novo testamento.
4. Finalmente, não poderemos ser relevantes no mundo, se não soubermos o que fazer em meio a tudo que iremos enfrentar. Precisamos de ensino comprometido e verdadeiro. Não podemos mais suportar o peso e a ineficácia da igreja, por não compreender o que foi feita por Deus em Cristo.
5. A missão da pregação da nova aliança, aqui denominada de novo testamento, se deparará com todo o tipo de dificuldade e manipulação. Entretanto, a verdade triunfa sempre. Foi assim com Jesus, foi assim com os apóstolos e, precisa ser assim nos nossos dias.
6. Nossa função como igreja é ser testemunho e testemunhar. A conversão esperada é obra do Espírito Santo.
7. Nosso entendimento deve ser claramente estabelecido, sabendo que muitas coisas nos esperam, mas que nunca estaremos sós ou sem nenhuma direção. A verdade foi inscrita em nós não somente para termos, mas para experimentarmos.
8. Finalmente, o plano de Deus está claramente definido no fato de resplandecermos a glória de Cristo em nosso corpo mortal. Por onde andarmos e qualquer circunstância que nos depararmos, a glória de Cristo precisa imperativamente ser vista em nós.
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