Esse é um capítulo, em que o profeta faz voltar seus ouvintes à origem dos feitos de Deus no meio do seu povo. Ele usa palavras memoráveis no convívio de Israel com o seu Deus, desde sua saída do Egito. Qualquer ouvinte da mensagem estava familiarizado com os acontecimentos na história do povo.
Muito provavelmente, Isaías estava afirmando a realização do plano de Deus para Israel, mas primeiro convida a olharem para trás e criarem a exata imagem do que iria acontecer no futuro. Não haveria novidades na metodologia de Deus em reatar seu relacionamento com o povo. E, como um excelente pedagogo, Isaías quase diz no texto: Lembra de como Deus agia e estava presente convivendo com Israel? Ele fará novamente e os motivos são os mesmos.
Assim, ele usa termos familiares, mas profundamente significantes. Lembram da história de Israel na saída do Egito, quando Deus criou nuvem, fumaça, fogo, tabernáculo e resplandeceu a sua glória no meio do povo? Pois bem, estará tudo de volta.
1. Historicamente, o povo precisou passar 40 anos no deserto. Precisavam ser transformados do estado de ser um povo para ser uma grande nação, retirando do meio deles todo aprendizado egípcio da mente, dos olhos, dos ouvidos e do coração. Era necessário fazer purificação nos mínimos detalhes, a fim de estarem prontos para entrar na terra prometida.
2. A criação do tabernáculo era a demonstração da presença de Deus no dia a dia do povo. Não tinha somente o caracter cerimonial de culto, mas também, era a certeza de que Deus iria caminhar com eles em qualquer circunstância de perigo, de temor ou de aprendizado. Como era Deus que liderava o povo, Ele precisava estar presente com este mesmo povo, sentindo e vivendo as mesmas dificuldades.
3. O templo de Salomão também tinha a mesma característica do tabernáculo, a diferença estava no estabelecimento do local definitivo para Deus permanecer presente e proteger todo território, era estático e não se movia.
É importante salientar, que na presente era, Deus também fez da igreja o lugar da sua morada, a fim de estar presente no dia a dia dos seus filhos e protegê-los permanentemente de desaparecerem antes do tempo designado. Na literatura do Novo Testamento, os autores não se furtam em assumir, que esses mesmos elementos estão presentes na igreja.
Há outro tempo com esses mesmos elementos, trata-se da vinda de Cristo. Esse tempo escatológico trará a presença de Deus e a sua proteção ao seu povo, com a diferença da presença física de Cristo.
Com isso em mente, Isaías (em continuidade com o capítulo anterior) segue o caminho de recordar ao povo, que todas as ações a serem descritas na mensagem, resulta no atual diagnóstico de Deus sobre a conduta do povo e, diga-se de passagem, que é um diagnóstico de caos. Ele prossegue afirmando que o remédio amargo a priori para o caos, é o juízo de Deus pela execução punitiva do exílio. Contudo, há uma promessa de perdão, ratificada pelo retorno do povo à terra prometida desde os tempos de Abraão.
Assim sendo, para executar futuramente as ações descritivas no texto de Isaías, Deus precisaria modificar completamente o quadro apresentado desde o capítulo primeiro. De modo que, Isaías reafirma, a presença de Deus no meio do seu povo, como era no passado uma presença garantida, agora também daria a mesma segurança na vida daqueles que permanecerem em Jerusalém.
Isaías, então, descreve duas ações de Deus na vida do povo:
1. A conversão do povo era exigência inegociável. A mudança interior seria operada por Deus em cada remanescente. Não haveria hipótese de conviver com Deus no estado atual repleto de pecado, descrito pelas palavras imundícia e sangue. É necessário dizer, se não houver mudança interior operada pelo Espírito Santo, tudo o que fizermos será apenas religiosidade vazia e repleta de hipocrisia. Assim, a ação de Deus é interior.
2. A outra ação é exterior. Objetivamente ele criará no tempo e no espaço, o que precisará ser visto como complemento da primeira ação. Absolutamente, Ele estará presente no dia a dia do povo, visando a confirmação da sua aliança e a segurança do seu povo. Deus não mudou!
A AÇÃO INTERNA
O autor nos chama a atenção para dois verbos no versículo 4, isto é, Lavar e Limpar. Deus certamente é diferente dos homens. Ele não olha para o exterior, isto é, a posição do povo como filhos escolhidos. Não! Ele olha para dentro (isso ele fez na escolha de Davi como rei em I Sm 16), a fim de identificar o que contaminou o interior, para que agissem dessa forma (Jesus falou assim nos evangelhos). Como Ele perscrutar no mais profundo do que somos, e dá o diagnóstico: a imundícia contaminou o coração do povo e, para destruir os efeitos e mudar o interior, é necessária a ação dos dois verbos:
1. LAVAR: esse é o verbo com ação simples, mas Deus é a voz ativa nesse processo. A ação era igualmente completa, não necessitaria de complemento. De sorte que, Deus coloca a mão na massa e primeiro lava o interior do povo, como se estivesse dando banho completo, ao mesmo tempo, esse banho afastava a imundícia do interior do coração. É importante salientar, que se trata de uma ação transitiva, ou seja, precisava ser complementada por Deus para modificar a situação. O que era a imundícia? Era o estado de iniquidade dos filhos, completamente dominados pela conduta desqualificada por Deus, desde o cerimonial até a jactância em mergulhar na prostituição. O povo contaminou seu interior no desejo de afrontar a Deus e amar o pecado. O diagnóstico de acusação foi identificado, só restava Deus agir com limpeza interior.
2. LIMPAR: como vimos, houve uma lavagem no interior. Agora, esse verbo exprime a ideia de limpar e enxaguar após a lavagem. Esse é o efeito causativo na mudança interior, isto é, purificação da culpa. O sangue simbolizava a culpa pelos atos de iniquidade. Com o abandono de Deus, cada pessoa se tornou lei e fez as coisas segundo suas forças. Com isso, o valor da vida sucumbiu e cada um buscou ser intocável e temido. Imagina o caos instalado: o povo vivendo como Sodoma, seus líderes corruptos e os juízes julgando sem nenhum amparo legal. Não havia outro resultado, senão o sangue derramado nos lugares, incluindo no centro político e religioso de Israel, Jerusalém.
Deus, então, promete mover o estado de pensar do povo, soprando o entendimento para o retorno à justiça e de purificação interior ardente, como gostam de usar: avivamento à vista.
AS AÇÕES EXTERIORES
Isaías diz ao povo, que após a mudança interior, os seus efeitos podem ser vistos com a presença de Deus no meio do seu povo. Ele assegura, que sem a purificação do remanescente, jamais Deus estaria presente para conviver e protegê-los. Ele não escreve por linhas tortas! Era como se Deus estivesse dizendo, que todo processo de alinhamento do povo com Ele, somente aconteceria se ele agisse. É a percepção de que só nos tornamos agradáveis a Deus, se Ele nos fizer assim. Foi assim no Novo Testamento em Cristo, somos agradáveis a Ele no Amado (Jesus). Com isso, a manifestação palpável da sua presença na vida do seu povo será palpável e os olhos a contemplarão. Assim, Deus diz agirá para que o povo tenha proteção e refúgio, ou seja, o remanescente usufruirá da presença de Deus como os seus antepassados conviveram dia após dia por onde quer que andassem. Ah, se a igreja entendesse isso!
1. CRIARÁ. Lembra do primeiro versículo da bíblia? O mesmo verbo é usado aqui, com a ideia de que as novas condições e situações a serem experimentadas, tem um agente executor, a saber: Deus. Daí, Ele moldará (dar forma ou formar) a realidade do povo após a sua purificação . A mudança indica presença protetiva. Haverá sobre a congregação nuvem, fumaça e resplendor de fogo, visando a proteção dos seus escolhidos. A palavra proteção indica uma cobertura contínua como um lugar de refúgio.
2. TABERNÁCULO. Mais uma vez a ideia de proteção é salientada com o uso da palavra tabernáculo. Pois serviria como uma espécie de abrigo ou cabine, a fim de criar sombra (proteção) contra as altas temperaturas; como também, para criar um lugar perfeito para refúgio (acolher e aconchegar) e como lugar de esconderijo (abrigo) contra as mudanças climáticas.
3. O que Isaías estava dizendo, que Deus criaria uma espécie de cabana com a dimensão capaz de proteger a terra e o remanescente, a fim de que vivam em segurança com a presença de Deus.
Muitas vezes duvidamos se Deus está trabalhando pelo seu povo, pois a realidade parece quase imutável e invariavelmente começamos a desfalecer e contaminar o nosso interior. Os desânimos com incredulidade geram desconforto na mente e agimos impulsionados pelo nosso senso de entendimento de quem é Deus e nos colocamos quase como quem está completamente certo no andar. Muitos querem tornar-se em referência e autoridade para outros seguirem, porém esquecem de que Deus não nos vê pelas palavras e, sim pelo interior. Não podemos esquecer o ensino de Cristo sobre o que contamina, mas também, da presença de Deus em nós.
Lembremos, que Deus escolheu deliberadamente morar nos que estão em Cristo e participar do dia a dia por onde quer ande. A limpeza purificadora foi efetuada e a sua proteção e cuidado está baseado na sua morada em nós. Portanto, aprendamos, que mesmo que as coisas aparentemente não estão conforme o ensino, Deus não parou de trabalhar pelo seus filhos e seu método igualmente não mudou.
Paz em Cristo.
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