Durante minha leitura em Isaías, resolvi escrever algumas impressões. A ideia fundamental é não ser detalhista, mas salientar aquilo que meus olhos viram, sem a preocupação de transformar no entendimento central de cada capítulo. Apenas, deixei ser despertado.
Assim, decidi somente comentar o que me chamou atenção, mas com a devida responsabilidade com o texto, procurando o significado da fala. Pois, o autor não está aleatoriamente a escrever.
De modo que, há a necessidade de algumas afirmações em relação ao livro de Isaías:
1. Acredito no mesmo autor de todo o livro.
2. Há uma unidade literária e teológica nos textos de Isaías.
3. No Novo Testamento, encontramos citações em abundância do livro e sempre atribuindo a Isaías a autoria.
4. Isaías é o mais evangelista dos profetas, pois fala sobre a pessoa e obra de Cristo, João o Batista, culto, religiosidade, eventos históricos, templo, Israel e escatologia.
5. Como o seu nome já diz: O Senhor é Salvação. O livro trata exatamente do desejo de Deus em salvar/conversão, mesmo que para isso, seja necessário a punição. Nisso há uma concordância com o novo testamento, pois afirma que Deus não tem interesse em condenar, mas em salvar.
6. Parece, que Isaías pertencia a uma família, que possuía uma certa importância e familiaridade com a corte, especialmente durante o reinado de Acaz.
7. Isaías foi assassinado no período do reinado de Acaz, cerrado em duas partes no meio de um tronco oco de árvore. Em Hb 11.37, parece se referir a ele.
Diante do exposto, abordaremos capítulo a capítulo, mediante o estudo dos vocábulos e o conceito emergente. Nossa abordagem será uma espécie de devocional, onde meditaremos sobre a ideia levantada, a fim de construir o entendimento a ser seguido.
CAPITULO 1.2,4 – POR DETRÁS DE UMA VIDA ARRUINADA, EXISTIU UMA DECISÃO ERRADA E INCOMPREENSÍVEL, QUE A DESVIOU DA DIREÇÃO CERTA.
Esse é um capítulo duríssimo de se ler/ouvir, porque relata a degradação de um povo, uma nação, que tinha tudo para viver em harmonia ao seu chamado, mas preferiu rejeitar sua vocação. Continuamente, procurou diligentemente cometer todos os erros possíveis e imagináveis, sem medir as responsabilidades e os efeitos causativos com tal decisão.
É importante recordar, que Israel nem existia e Deus trouxe à existência. Esse relato histórico está recheado de informação no Antigo Testamento, onde desde a sua origem até os propósitos de sua existência, são claramente definidos e tornado público através da sua história. Desde cedo, manifestou a sua atitude de dura cerviz e rebelião constante tanto em tempos ruins quanto em tempos bons. A grande verdade era que o Deus revelado a eles, não era suficiente.
Cenário após cenário, foram sendo vistos na sua história e as decisões na sua grande maioria eram desfavoráveis ao seu Deus. Pelejaram sem parar para entrar em conflito com o seu Deus, mesmo com sua presença constante vista em livramento, suprimento e convívio. Jamais poderiam se queixar de ausência de Deus, pois sua presença os seus olhos contemplavam. Vários foram os eventos de manifestação não somente de poder, mas de cuidado. Todas as diretrizes e respostas eram dadas e respondidas. Não havia nada na vida de Israel, que Deus não estivesse no meio deles.
Eles foram escolhidos pessoalmente por Deus dentre os povos da terra, somente isso era para deixá-los gratos eternamente e pronto para ouvir as determinações do Deus, que os chamou de filhos. O cuidado e as advertências foram dados pela manhã, tarde, noite e madrugada pelos servos que ele mesmo enviava em seu nome.
Era o seu povo e deixava isso declarado não somente na dimensão física, mas também, na espiritual. Procurou capacitá-los para viver com Ele, para realizar a sua missão, para ser o seu representante diante das nações, a fim de que, essas mesmas nações pudessem crer no mesmo Deus de Israel. O que se seguiu pela história desse povo, foi andar contrário a Deus, suscitar a ira de Deus, fazer Deus usar de todos os instrumentos para corrigi-los.
Eles brincaram com Deus e fizeram tudo o que poderia desagradar profundamente a Deus. Geraram miséria, roubaram, enganaram, julgaram erroneamente, desprezaram o cuidado dos órfãos e das viúvas, subornaram, toda a sociedade se desordenou a começar dos maiorais até a população mais simples. Não havia justiça, não havia compaixão e não faziam o bem. Parecia, que o fim seria transformá-los em algo parecido com Sodoma e Gomorra, isto é, serem destruídos da face da terra.
Adicionado a isso, faziam do culto a Deus, algo totalmente profano, imundo e mundano. Não havia temor, nem reverencia, nem vontade de obedecer ao modelo ensinado por Deus. Usavam as festas instituídas para ajuntamento solene temperado com pecado. Faziam dos sacrifícios um ato de iniquidade solene. Decidiram viver em conformidade ao seu próprio modelo de vida e não quiseram mais saber de nada relacionado a sua história relacional com Deus. Nada tinha significado, tudo estava sujeito aos seus próprios caprichos e estilo de vida. É assim que somos e vamos fazer tudo em conformidade ao que decidimos ser.
Porém, Deus não se silencia e nem deixa de agir. Ele denuncia a conduta pecaminosa do povo e fala abertamente o que causou tudo isso. Não aceita continuar as coisas do jeito que são e faz declarações fortes e determinadas, mas oferece oportunidades de o povo voltar a ser o que foi chamado para ser. Ele já enfatiza sua atitude imediata, não ouvindo as orações. Deus jamais se dobrará ao capricho do povo.
Então, ele solenemente fala pelo seu servo, o profeta Isaías, denunciando o seu diagnóstico da situação. Algo digno de nota, que ele personifica os céus e a terra, como se chamasse a sua obra de criação, para serem testemunha do que iria pronunciar (“Ouvi, ó céus, e presta ouvidos, tu, ó terra”):
1. O primeiro verbo é um pedido, para que percebam com ouvidos. Interessante, que o uso do verbo no Imperfeito do Qal (ação incompleta, isto é, algo que deveria ser repetitivo e contínuo). A ideia é de ouvir continuamente. Era como se disse assim: toda vez que Deus falar pelo profeta, a atitude deveria ser de ter interesse em ouvir, a fim de obedecer, contudo, a realidade vivida pelo povo era o contrário. Assim, ele personifica os céus, para que sirva de testemunha e faça o contrário do que o povo estava fazendo.
2. O segundo verbo era como se entregasse literalmente a orelha para ouvir. O verbo está no Imperfeito do Hifil (ação causativa/ como acontece). A ideia era dizer como se faz para ouvir, ou seja, só se pode ouvir, se colocar a orelha (audição) para tal. O foco de desagravo estava patente aos olhos de Deus. Ele entendia, que todas as vezes que falava pelo seu servo o profeta, o povo não colocava literalmente os ouvidos. Então, era impossível andar com Deus. E a ação de não colocar o ouvido, era a ação causada pelo próprio povo a si mesmo.
3. Atitudes deliberadas de rebelião constante, são apenas efeitos da conduta. O povo fazia isso, porque não queria nenhum relacionamento com Deus nas medidas de Deus. Por isso, Deus os descreve como o boi que não conhece seu dono e do jumento que não conhece a manjedoura do seu dono. O que vai resultar facilmente na falta de conhecimento e entendimento do seu Deus.
Deus reuniu solenemente sua criação para falar de forma completa e intensa, aludindo tudo o que fez por Israel. Ele não falhou no que fez ou propôs ao seu povo. Não utilizou metodologia ininteligível. Tudo o que fez foi perfeito e digno de ser obedecido e adorado. Assim, ele diz:
1. CRIEI FILHOS. A ideia do verbo é que Deus foi a causa de o povo crescer e tornar-se grande. Foi uma ação intensa e ativamente realizada pelo próprio Deus, sua intencionalidade estava clara e definida. Ele concretizou a ação de fazer daquelas pessoas, seus filhos. Ele disse repetida, extensiva e intencionalmente, que os judeus são os seus filhos e, mais uma vez, está afirmando e assegurando a continuidade de suas palavras desde o início da existência do povo. Para Deus, o fato dos judeus serem seu povo, era algo normativo e definitivo. Isso é tão provado, que no final do capítulo, ele assegura que trabalhará pela conversão do povo ao seu chamado.
2. EXALCEI-OS. Mais uma vez, a intencionalidade, a intensidade, a repetitividade e extensidade são garantidas como forma da ação de Deus em exaltá-los. Ele os levantou da escravidão e da destruição completa. Ele deu o seu nome para os seus filhos. Ele os fez subir de status e de lugar. Ser chamado de filhos de Deus é a maior exaltação do ser humano.
Contudo, o que fez o povo diante dos privilégios de ser criado como filho e ser exaltado aos olhos das nações?
1. SE REBELARAM. A ideia do verbo é de ação completa, isto é, a dimensão existencial do povo fundamenta-se em agir dessa forma. Passaram por cima de tudo que foram ensinados, transgredindo deliberadamente cada ordenança e agindo em revolta todas as vezes que o assunto Deus entrava em pauta. É a declaração de dura cerviz, sim, mas também, de se posicionar como adversário de Deus.
2. ABANDONARAM. Soltou a mão e deixou para trás, quem fez tudo por eles. A ideia é a vida vivida sem a presença de Deus continuamente. Eles partiram da dimensão de obediência a Deus. Toda sua história com Deus ficou para trás.
3. BLASFEMARAM. Essa é uma atitude movida com toda a intensidade e consciência possível, mediante o desprezo e rejeição a tudo o que viveram eles e os seus antepassados. Nada valia a pena e o único tratamento era o desprezo pelas coisas de Deus.
4. VOLTARAM PARA TRÁS. O verbo expressa a ação sofrida pelo sujeito, no caso os judeus. Foi algo que fizeram a si mesmos. A atitude deliberada gerou o sentimento de ser estranho, como se não fossem filhos exaltados. Eles viraram as costas e seguiram seus próprios caminhos, não se importando com nada. É a volta ao estado original de escravidão ao pecado e sem Deus na vida. Não havia nenhum interesse em voltar, aliás, voltar para trás se constituiu em impedimento para retornar. Era como se dissessem, não dá para voltar ao que o Senhor nos chamou, porque nós desistimos e voltamos ao nosso estado natural, onde não há cobranças e podemos fazer o que bem entendermos. Se não podemos negar a sua existência e o que o Senhor fez por nós, podemos, então, tentar viver como se o Senhor não existisse e fazermos exatamente o que o Senhor nos pediu, mas do nosso jeito natural de ser.
CONCLUSÃO:
Tenho absoluta certeza, que Deus não diagnosticou com alegria. Claramente, deve ter pesado muito em Deus, dizer de forma tão forte e definitiva a situação real, descrita nos versículos do primeiro capítulo de Isaías. Certamente, pela alusão à esperança de mudança, que Ele operaria no povo, emergiu o ar de alegria.
Esse é um momento, no qual pensamos sinceramente sobre as nossas decisões com Deus. Observar o diagnóstico de Deus sobre seus filhos, nos traz uma sensação de pergunta, onde gostaríamos de saber, qual o diagnóstico dele sobre nós, que somos igualmente seus filhos em Cristo?
Maravilhosa reflexão sobre esse grande profeta. Estou dando aula na EBD justamente sobre os profetas maiores e uma curiosidade de aprendi, o livro de Isaías é como uma mini Bíblia… 66 capítulos, Onde 39 ele fala sobre o pecado, a punição do povo rebelado e sobre a Justiça de Deus. Os outros 27 sobre a Esperança do Messias.