INTRODUÇÃO:
Quando vemos o profeta especificar a região direcionada aos oráculos de Deus nesse capítulo, começamos a lembrar os acontecimentos do norte de Israel e, na busca desse contexto, percebemos que esse estado de rebelião estava no DNA desse povo.
Foi nessa região, especificamente no monte Gerizim, que foram entregues as bênçãos e as maldições e, uma das coisas estabelecidas por Deus, foi em caso de abandoná-lo e suscitar a sua ira, o povo seria retirado da terra. Mais tarde, na divisão de Israel em dois reinos, essa região teve em Samaria, sua capital e a área geográfica definida desde Betel até Dã, compreendendo do mediterrâneo até a divisa com a Síria e Amom. Foi, também, coroado Jeroboão como rei sobre as 10 tribos, que determinaram a divisão e chamaram de reino do Norte. Assim, tanto Efraim quanto os moradores de Samaria estão incluídos e identificados no discurso de Isaías.
O histórico de pecado desse reino foi absolutamente destrutivo no relacionamento com Deus. Os reis eram maus aos olhos de Deus e agiam com violência e mortandade, conduzindo o povo à idolatria e feitiçaria. A característica principal de injustiça e estado constante de rebelião contagiou a todos, com exceção dos servos de Deus levantados naquela região, tais como Elias e Eliseu. Assim, Samaria rivalizava com Jerusalém, a fim de ser o centro de culto a Deus, mesmo sabendo que Deus escolhera Jerusalém, para edificar a sua casa, fato ocorrido no reinado de Salomão.
No tempo de Isaías, essa mesma região cresceu nesse contexto, incluindo a tentativa de aliança com o rei da Síria, a fim de atacar e dominar Jerusalém (7.1). a genética não foi alterada e o estado de rebelião contra Deus ainda persistia.
Mas, o que acontece, quando há a persistência de viver em rebelião contra Deus? O autor nos diz, que suscita a ira de Deus, mas igualmente revela o caracter de Deus. E, nesse texto, iremos ver como essa rebelião se desdobra:
A PERSISTÊNCIA DA REBELIÃO CONCORRE COM DEUS NOS MESMOS PENSAMENTOS SATÂNICOS (Vv 8-10)
Se observarmos detalhadamente esse texto, vamos nos admirar do padrão estabelecido, o qual é exatamente igual ao pensamento do querubim ungido, que na sua soberba e orgulho quis ser igual ao altíssimo, construindo seu trono e afirmando sua divindade, porque o enfrentaria e, mesmo que seja destruído, ainda assim, se estabeleceria (Is 14.12-14). Contudo, a resposta de Deus ao querubim, foi a mesma ao povo daquela região. Jamais existirá estado de rebelião permanente e sem punição. Muitos têm dificuldade de compreender a harmonia entre a justiça e o amor de Deus. Assim, seguindo nosso pensamento, percebamos a descrição da natureza humana.
Tudo acontece no eu interior e a exteriorização é a comprovação da contaminação do coração. Toda a sociedade estava contaminada em rebelião contra Deus, dos maiorais aos mais simples. O autor não deixa nenhuma dúvida de como era o estilo de vida deles, demonstra cabalmente a realidade denunciada. De modo que, ele usa o verbo relacionado ao conhecimento (SABERÁ), com o fim de afirmar a inculpabilidade do povo. Eles conheceriam por experiência própria no que eles mesmos dizem. Deus não os deixaria com o argumento da ignorância, antes afirmaria que eles aprenderam a viver assim.
1. Com ORGULHO. A ideia aqui é de altivez. Era como se todos dissessem a mesma coisa do querubim ungido, ou seja, temos um estilo de vida orgulhoso como se fosse a representatividade da nossa majestade, isto é, eu reino sobre mim mesmo.
2. Com ARROGÂNCIA. A ideia aqui é de grandeza. Eles estavam afirmando que o estado de arrogância, representava a magnificência de todos os moradores daquela região. Ser insolentes era motivo de alegria, porque era o símbolo de seu esplendor, pompa e nobreza. Eles se consideravam verdadeiros prodígios.
3. De CORAÇÃO. Todos sabemos que o Antigo Testamento trata coração como o eu interior, a alma humana, aquilo que verdadeiramente somos no mais profundo. Assim, o indicativo básico e absoluto era que tudo neles estava voltado para o mau. O sentido de existência do povo era viver por rebelião. Esse estado autenticava sua existência e construíam sua essência.
4. Que DIZ. Usaram essa expressão verbal, para exprimir a intensidade do estado de rebelião. É quase um regozijo por viver contra Deus. Essa era a ideia do estilo de vida aceitável por eles e que Deus deveria aceitar. Talvez, estivessem dizendo, Deus nos aceite como somos. Era o que estava no eu interior da tribo de Efraim e dos moradores de Samaria.
O estado de rebelião não ficou restrito ao interior dessas pessoas, ele foi externado com a ideia de dizer a Deus, que Ele mesmo deixando a cidade e as casas vulneráveis, eles reconstruiriam tudo de novo. Em outras palavras, assumiam estar em pé de igualdade com Deus, porque se Ele é capaz (criador e destruidor) de fazer, eles são capazes de reconstruir, independente da existência de Deus. Isso se dá em duas frentes:
1. Todo material que usamos para construir as casas estão no chão (“as telhas e tijolos caíram), porque foram destruídos. Entretanto, nós como um só povo, partiremos noutra direção.
2. A decisão tomada foi: pegaremos as pedras talhadas/ cortadas e reconstruiremos as casas. A ideia é permanecer em oposição a Deus. Se a cidade está sitiada ou destruída, a ordem para todos é reconstruir.
3. Fizemos as casas com sicômoro, agora vamos fazer de madeira de cedro, que é uma árvore profunda, resistente e mais forte. O verbo substituir indica que é a causa do sucesso, ou seja, a ação causativa dada a situação de destruição das casas, alterarão o nosso status de perdedor para vencedor. Definitivamente, é um povo afrontoso.
Diante de tanta rebelião deliberada e consciente, Deus não tem outra alternativa, senão decretar a primeira parte do seu parecer. Ele enviará os sírios e os Filisteus para devorar a Israel com muita vontade de destruição (boca escancarada). Após esse primeiro estágio de rebelião, surge o segundo estágio.
A DUREZA É A CARACTERÍSTICA PRINCIPAL DO POVO EM REBELIÃO (Vv11-13)
O cenário é devastador, porque há o decreto de destruição tanto do ambiente quanto das pessoas. Contudo, não há nenhum indicativo de mudança de atitude dos envolvidos. Antes, deixaram claro pela conduta, que jamais mudarão de ideia. Morreremos todos juntos com o mesmo pensamento. A confirmação dessa atitude é vista nos dois verbos usados por Isaías:
1. NÃO VOLTOU. Esse verbo na literatura do Antigo Testamento indica a ideia do arrependimento, quando se dá meia-volta da direção errada e segue pela correta. Literalmente, é voltar para trás, indicando o retorno para um estado diferente do que estava experimentando. É um verbo que retrata uma ação simples, mas completa, em outras palavras, é o abandonar do estado de rebelião, porque foi mostrado que esse estado é mau e errado. No caso específico, rebelião é um agravo contra Deus. O povo não quis voltar ao relacionamento com Deus na maneira Dele. Antes, deliberadamente, preferiram viver como estão.
2. NÃO BUSCOU. Diante de tudo o que aconteceria, não se moveram. Não procuraram e nem recorreram a Deus em oração e adoração. Antes, preferiram receber a punição a reconhecer que estavam errados.
Aqui, é uma demonstração clássica da dureza de coração. Em nenhum momento analisaram suas condutas e seus pensamentos diante da revelação de Deus. Se assumissem seus erros, era como se demonstrassem sua inferioridade a Deus. Essa atitude de todos foi completa e definitiva, não havia sinais de se quer pensar em mudança. Persistiriam em viver em rebelião, mesmo que suscitassem a ira de Deus. Parece algo irrevogável. A mente foi tomada por ideias nunca ensinadas pelo Senhor. Parece que foi ensinada por quem não tinha autorização para ensinar. É o espírito de engano prevalecendo diante dos fatos. Observemos, que isso contaminou a todos, sem exceção de status e, isso, veremos no terceiro estágio.
A SOCIEDADE FOI CONTAMINADA PELA PERSISTENCIA DA VIDA EM REBELIÃO (Vv14-17)
Nossa sociedade pensa muito na autoria da materialização do estado de rebelião, procurando encontrar culpados, a fim de eximir sua própria culpa. Há sempre uma atribuição dos erros cometidos. Foi assim desde Adão e Eva na queda. Esquecemos da fala do profeta Oseias, onde afirma que o povo de Deus perece por falta de conhecimento. Preferem, literalmente, comer pelas mãos dos outros do que procurar a excelência do conhecimento de Cristo pela verdade que há Nele. Por isso, é mais fácil imputar aos outros aquilo que está em nós. Entretanto, Isaías proclama ao povo, que não há culpados e inocentes, antes, todos agem e pensam da mesma forma, mesmo que em graus diferentes dado a posição de cada um na sociedade.
Pintemos o quadro, o povo na sua totalidade tem o estilo de vida pautado e fundamentado em rebelar-se contra Deus. Recebe a primeira promessa de corretivo, mas permanece no mesmo estado de ser. Agora, o profeta mostra como a rebelião contaminou a sociedade e, ao contrário do início da narrativa, afirma o segundo corretivo, dizendo que Deus agirá diretamente. O autor usa figura de linguagem, para exemplificar a estrutura social daquele lugar. Ele diz que Deus cortará (é o causativo pela situação de rebelião/ destruirá vidas/ derribará a árvore/ símbolo de humilhação). Depois da ação verbal, ele identifica que sofrerá esse dano: cabeça = liderança/ cauda = pessoas comuns/fronda de uma palmeira = o fruto da sociedade/ tornando a todos insignificantes).
Com esse cenário, ele avança em cada integrante:
1. Anciãos (eram pessoas importantes na sociedade no Israel do Antigo Testamento, ficavam nos portões de entrada das cidades e eram sempre consultados por juízes e até reis sobre qualquer demanda da nação) e Pessoas Honrosas (importantes no meio do povo pela riqueza ou por conduta irrepreensível) são o cabeça, isto é, fazem parte da liderança e estima diante do povo. São eles que decidem sobre a vida social e econômica daquela região.
2. Profeta é a cauda. É o ofício com responsabilidade de dirigir, ensinar e instruir a todos sobre a Lei de Deus. Mas, desviou de seu ministério e preferiu servir a mentira, transformando-se em mestre do engano e da falsidade e, claro e indubitável, vai gerar decepção pelos que seguem o que eles dizem. O profeta, que não é Isaías, é chamado pelo próprio Deus de falso instrutor que ensina mentiras, ou seja, eu não te enviei.
3. Deus, então, diz o motivo pelo qual os classifica dessa forma. Eles são guias (líderes), que vão à frente do povo e os fazem continuar a avançar em rebelião contra Deus. O verbo no particípio não deixa dúvidas do caracter desses líderes, chamando-os de enganadores, que causam o erro no povo, fazendo-os errar mental e moralmente, com o intuito de enganar. O efeito causativo da atividade desses líderes recai em cima do povo, que continua a avançar em rebelião contra Deus e, como consequência, será engolido e destruído.
Aparentemente, o povo é somente vítima do sistema. Contudo, o profeta revela o diagnóstico extensivo à população em geral. Jamais esqueçamos, o que o salmista Davi escreveu no Salmo 139.
1. Deus não tem alegria no estilo de vida dos jovens. Não há nada agradável no que dizem e fazem. Deveriam ser a força motora de revolução do estado de rebelião, antes acolhem o que os líderes ensinam.
2. Deus não se compadecerá das Viúvas e dos Órfãos. Esses grupos da sociedade em Israel sempre foram motivo de atenção especial e o motivo era simples. Havia guerra constante com os povos ao redor e os que vinham de longe e era necessário guerrear. Evidentemente, que haviam baixas e então aumentavam o número das viúvas e de órfãos. Entretanto, Deus diz abertamente que não terá nenhuma piedade delas e nem as protegerá.
3. Qual o motivo da tristeza e do abandono desses dois grupos de pessoas? A resposta é simples: São HIPÓCRITAS, isto é, são profanos e ímpios, cujo estilo de vida se caracteriza em ser maus (MALFEITORES), fazerem o que é errado deliberadamente, porque tem a opção de rejeitar a maldade e recorrerem a Deus. Entretanto, preferem e desejam o erro. PROFEREM DOIDICES. Tudo que falam reflete o que são e a ideia aqui é de pessoas que falam com insensatez (avaliam a situação de qualquer forma e com tendência para conclusão equivocada) e desgraça (olham para seus estados e se maldizem, sem levar em consideração o cuidado de Deus em determinar sua proteção social)
Esse conglomerado do exército de rebelião se consolida por uma dinâmica social e institucional alicerçada na impiedade e seus efeitos causativos levaram à manifestação da ira de Deus em forma de juízo sobre a região. Tudo o que vimos na vida do povo, pode ser resumida em uma única palavra IMPIEDADE.
A IMPIEDADE CRIOU O AMBIENTE PARA O ESTADO DE REBELIÃO E GEROU A NECESSIDADE DA INTERVENÇÃO DE DEUS (Vv18-21)
Não há hipótese de Deus ficar sem reação diante do estado de rebeldia. Ele agiu e sempre agirá diante desse quadro. Nós vimos isso no mundo espiritual, quando condenou ao querubim e aos anjos que o seguiram, como também o aprisionamento daqueles que não guardaram seu principado, e pelo Antigo Testamento com várias intervenções de Deus nos grandes eventos de punição e libertação. Ele não fica indiferente à rebelião.
Quando chegamos nas páginas do Novo Testamento, especialmente em Romanos 1.18, vemos a atitude de ação de Deus face ao estado de rebelião, que gera injustiça e impiedade. Apocalipse consuma a intervenção pessoal de Deus sobre a humanidade e os seres espirituais em estado permanente de rebelião. O estado de rebelião é um desaforo e chama a Deus para uma luta. É um enfrentamento desrespeitoso, cuja intenção é mostrar que Deus não tem nem a moral para julgar e nem o poder para enfrentar. É uma tentativa de causar medo em Deus pela ousadia de viver de modo afrontoso contra Ele. É uma tentativa de humilhar e desdenhar Dele. Cuidado, porque no texto Isaías o descreve como Senhor dos Exércitos.
Assim, Isaías nos diz claramente que, o que motivou o juízo de Deus foi a IMPIEDADE do povo. A conduta recheada de maldade uns contra os outros, criando loucura na região e subindo às narinas de Deus os efeitos do pecado de rebelião pela impiedade, levaram a Deus em decretar seu juízo implacável e completo sobre o povo daquela região. A impiedade significava que toda relação civil daquela região, era regida e dominada pela maldade. Nenhum segmento da sociedade era inocente. Todos se contaminaram e agiram impiamente, sem o menor pudor ou temor ao Deus de Israel, que fatalmente entraria em batalha contra eles, não como o Pai amoroso, paciente, longânimo, mas como o Senhor dos Exércitos. A guerra estava declarada e o resultado já se sabia, porque Ele nunca perdeu uma batalha.
É impossível, entrar em batalha com Deus e vencer. Ele nem precisa fazer sinais e maravilhas, basta olhar os efeitos na vida dos que vivem em rebelião contra Ele. Em muitos casos, parece que nada os afeta, mas lembra do Salmo 73? Pois é, o fim deles é a perdição.
CONCLUSÃO:
Como disse Davi, não há Deus como o Senhor e Isaías ratifica essa verdade ao dizer em três versículos (vv12,17,21), que Deus ainda dá oportunidade para o arrependimento, com a seguinte frase: NÃO SE APARTOU A SUA IRA, MAS AINDA ESTÁ ESTENDIDA A SUA MÃO.
Esse é o modo de viver do Deus revelado na Bíblia:
1. JUSTIÇA – Ele não volta atrás do que fez àquela região. Ele disse, Ele fez. Isso vale para o passado, presente e futuro.
2. AMOR: a mão continua esticada, espalhada, inclinada para perdoar o arrependido, que pode ser somente um (numeral definido) como pode ser todos (toda massa).
Finalmente, quem segue a Cristo, não pode viver com o coração em rebelião.
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